Dissecando mecânicas: drafting 27 de julho de 2017

Andei pesquisando como a mecânica de drafting é usada em vários jogos. Drafting é muito associado ao 7 Wonders, em que cada jogador tem uma mão de cartas, escolhe uma delas e passa as outras para o lado.

Mas drafting é muito mais do que isso. Qualquer jogo em que você tenha que escolher uma entre várias opções de cartas (ou tiles, dados, recursos) comuns a todos usa drafting.

Quer exemplo de um jogo que não tem drafting? Carcassonne. Na sua vez você compra um tile sem poder escolher qual. É o primeiro da pilha e pronto. Vale o mesmo para Battle Line, Twilight Struggle, Tigris e Euphrates.

Mas vamos ver como os jogos que têm drafting se utilizam dele em benefício próprio:

Ticket to Ride – São 5 cartas à sua disposição, você compra 2 e repõe. Ninguém pensa em Ticket to Ride como um jogo de drafting, mas ele é vital pro jogo: TtR nunca funcionaria comprando cartas às cegas. A vantagem de usar um método de drafting tão simples é que ele fica quase transparente, permitindo que o jogo foque no que é mais divertido: colocar trenzinhos no tabuleiro. Outros jogos que usam o mesmo tipo de drafting são Splendor e Concordia.

Suburbia – Os tiles ficam em uma fila com custos diferentes: os do início custam menos, os do final, bem mais. A cada tile comprado, a fila anda, barateando os que estão mais para trás. Ao contrário do TtR, no Suburbia o drafting é parte crucial do jogo, pois as decisões mais importantes giram em torno de comprar agora um tile médio ou deixar para a próxima rodada, quando estiver mais barato, correndo o risco de alguém comprar antes. Essa mecânica é usada em vários outros jogos, como Through the Ages, Small World e Eight Minute Empire.

Patchwork – usa um método super simples: todos os tiles são colocados em círculo, com um peão entre 2 deles. Você pode comprar qualquer tile que esteja até 3 à frente do peão, e move o peão para o lugar do tile comprado. Num jogo para 2 jogadores, essa implementação do drafting permite intensa marcação, pois o tile que você comprar também delimita quais tiles seu oponente vai ter à disposição. Às vezes é melhor comprar um tile ruim para não dar uma opção muito boa ao adversário.

Quadropolis – implementa o drafting de uma forma rebuscada: os tiles ficam todos dispostos numa grade de 5×5, e para pegar um, você usa um token com um valor de 1 a 4 que coloca em uma das linhas ou colunas da grade, pegando o tile que estiver na posição equivalente ao número do token usado. O lugar onde você colocou o tile fica bloqueado para outros tokens. Apesar da aparente complicação, a mecânica flui bem e funciona pois no final da rodada já quase não há mais tiles para pegar, tornando o jogo bem apertado. Aqui, além de ser o ponto principal das decisões, como no Patchwork e no Suburbia, o drafting é a estrela do jogo, que chama a atenção de potenciais compradores justamente pela inovação na mecânica.

7 Wonders Duel – o Duel preserva muita coisa do 7 Wonders, mas muda justamente a sua maior marca, que é o drafting com mãos rotativas. Em vez disso, implementa um sistema em que as cartas de um round são sobrepostas num formato de pirâmide, e o jogador só pode pegar as que não têm nenhuma carta por cima. Com isso, ele cria um drafting que, assim como no Patchwork, estimula muita marcação, criando situações em que pode ser melhor pegar uma carta ruim para não dar uma excelente para o adversário. Com essa mudança no drafting, 7 Wonders deixou de ser um jogo improvisado para 2 pessoas e ficou incrivelmente tenso e divertido.

7 Wonders – e voltamos ao inspirador dessa análise. Não preciso descrever de novo como funciona o drafting no 7 Wonders, mas é legal entender porque o sistema de mãos rotativas foi usado nele, em vez de uma abordagem mais tradicional, como no Ticket to Ride. A grande vantagem desse sistema é exterminar o downtime, já que todos podem jogar ao mesmo tempo. Com isso, o jogo não precisa se limitar ao máximo de 4 ou 5 jogadores, e ousa chegar a 7 quase sem alterar o tempo total de jogo. Between Two Cities é outro jogo que usa o mesmo tipo de drafting para aumentar o limite máximo de jogadores.

Fazendo essa pesquisa, me dei conta de que 2 dos meus jogos que devem sair no ano que vem também utilizam variações de drafting:

Papertown funciona a princípio como o Ticket to Ride: você escolhe um tile dentre 4 possíveis ou pega 2 no escuro. A diferença é que pegando um dos 4 tiles visíveis, você não repõe, reduzindo as opções disponíveis. E pegando 2 no escuro, você acrescenta o tile que não escolher no pool de compras, que com isso varia o jogo inteiro.

No Copacabana, há também um pool de 4 tiles, mas 2 deles são frentes de tile e 2 são versos. O tile que for comprado só pode ser usado no seu lado que estava visível no pool de compras.

E vocês? Que jogos de drafting mais curtem? Alguma outra forma de drafting que eu não mencionei aqui? Deixe nos comentários sua contribuição!

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