Jogos “Embaralha e vai” 27 de julho de 2017

Videogames têm uma vantagem enorme sobre tabuleiro: é fácil de começar a jogar. Liga a TV e o console, aperta o start e o jogo já começou. O “investimento inicial” para começar uma partida é muito menor, o que ajuda a explicar a preferência da maioria das pessoas.

Tabuleiro o buraco é mais embaixo. Dependendo do jogo, pode demorar quase meia hora para terminar o setup. E se tem alguém que não sabe jogar? No videogame, o próprio jogo já ensina a maioria das regras. Se a tartaruga encostar no Mario, ele morre. Se ele pular, ele cai. Se ele pegar o cogumelo, fica grande. No tabuleiro, cada regra precisa ser aprendida, pois o jogo não faz nada para você.

Por isso cada vez mais me convenço que um bom jogo filler tem que ser do tipo “Embaralha e Vai”, ou seja, reduzir ao mínimo as barreiras para começar a partida. Quanto menos tempo se gastar na preparação, mais incentivo os jogadores vão ter para escolher um jogo.

Elaborei alguns quesitos quase militares para avaliar quão Embaralha e Vai é um jogo:

1 – Fácil de montar
  • Abrindo a caixa, o jogo tem que estar praticamente pronto para jogar.
  • Se houver só um tipo de componente, ótimo. Parade, por exemplo, tem só um baralho. Animal upon Animal tem apenas bichos de madeira.
  • Se as cartas forem todas embaralhadas no mesmo monte, melhor ainda. Nada de separar carta por tipo recurso. Junta tudo, embaralha e vai. Bohnanza tem um calhamaço de cartas, todas no mesmo deque.
  • Nada de setup fixo inicial. Mãos iniciais aleatórias, cartas abertas iniciais aleatórias.
2 – Fácil de explicar
  • Quem nunca jogou tem que entender o conceito básico do jogo em 3 frases.
  • Alguns exemplos: No Thanks!: Descarte uma ficha para não pegar uma carta, ou pegue a carta com fichas descartadas em cima. Munchkin: Jogue uma carta, execute o poder dela e tente chegar no nível 10. Welcome to the dungeon: pegue uma carta de monstro, coloque na dungeon ou guarde e retire um equipamento do herói, ou não pegue carta de monstro e saia da rodada. O último a ficar na rodada enfrenta o monstro.
  • Regras nas cartas ajudam a complementar o conceito básico. No Sushi Go, o conceito é “Escolha uma carta da mão e passe o resto para o lado”. Mas o motivo para escolher as cartas estão nas próprias cartas: a forma como cada uma pontua está escrita lá.
3 – Fácil de relembrar
  • Dá muita preguiça ter que recorrer ao manual para relembrar regra. Não dê ao jogador motivos para abrir o manual, é mais chato do que fazer setup.
  • Evite números arbitrários. No Bohnanza, cada jogador começa com algumas cartas, pega mais algumas na fase de troca, e repõe sua mão com mais algumas. Nunca sei quantas em cada fase. Já no Love Letter, cada um tem uma única carta, e o número de corações necessários para a vitória é sempre a divisão do total de corações pelo número de jogadores. Só li o manual uma vez.
  • Evite configurações diferentes de acordo com a quantidade de jogadores. No Bohnanza, a cada nova partida é preciso consultar o manual para saber quais feijões saem do jogo. Já Coup é sempre igual, com 3 ou 6 jogadores.
4 – Difícil de largar
  • Um bom Embaralha e Vai não vê mesa uma vez só. Foi tão divertido, tão rápido, e é tão fácil começar de novo, que não custa começar outra. Nunca joguei Coup menos de 10 vezes consecutivas.
  • O esforço para jogar a próxima tem que ser próximo de zero. Um set collection que precise ser muito embaralhado para desfazer as coleções da mesma cor é mais difícil de jogar 2 vezes do que Love Letter, que tem só 16 cartas para embaralhar.
  • O jogo não pode deixar os jogadores saciados. Ele termina de supetão no auge da diversão, faltando só… mais… uma… carta… para você (achar) que iria ganhar.

Meu jogo que mais se aproxima desse estilo é o ainda pouco divulgado Bungle in the Jungle. É um filler de 15 minutos para 2 a 5 jogadores, em que cada jogador tem 2 identidades secretas: uma presa e um predador. O objetivo é colocar cartas de presa em jogo de forma a fazer seu predador comer o máximo de presas e sua presa sobreviver o máximo que puder. Mas mesmo ele esbarra em vários desses quesitos.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *