Por que quase não existem jogos de trivia modernos? 6 de julho de 2021

Uma coisa vem me encucando desde que comecei a criar o É Top!?, jogo de trivia que desenvolvi em parceria com o Leandro Pires, e que acabou de ser lançado pela Grok Games:

Já repararam como existem jogos modernos para todos os gostos, mas se você quiser jogar um bom e velho jogo de perguntas e respostas, provavelmente vai ter que voltar aos velhos clássicos dos anos 80 e 90?

Wargames, ameritrashes, party games, jogos de destreza, até livros-jogos, todos já foram modernizados, e hoje em dia raramente se publica um jogo desses que não se preocupe com alguns dos pilares dos jogos modernos: decisões significativas, turnos curtos, rejogabilidade, etc.

A quase exceção são os jogos de trivia. Sim, existe Timeline, existe Wits ‘n’ Wagers e existe Fauna / Terra. Mas não parece pouco para um estilo de jogo tão popular? É um filão pouquíssimo explorado, pulsando à espera de ser modernizado também.

Mas como modernizar os jogos de trivia? Afinal, cada pergunta tem uma resposta, você sabe ou não sabe. Não tem como tornar a experiência muito diferente do Master, do Quest, ou de uma noite de quiz num pub, certo?

Errado. Pontuar por saber a resposta certa é apenas um dos formatos possíveis. E assim como os roll-and-moves da nossa infância, ele pode ser superado.

A principal tarefa de um jogo de trivia moderno é dar opções para quem não sabe a resposta.

Se a única forma de avançar é tendo o conhecimento bruto, o jogo fica binário, sabe-ou-não-sabe. Antigo. Modernizá-lo é permitir que os jogadores possam usar outros métodos para intuir, deduzir, apostar ou até fingir que sabe a resposta, sem tirar a centralidade das perguntas do jogo.

Timeline faz isso de forma muito elegante. Pode não parecer, mas ele é um jogo de trivia. Seu objetivo é colocar em ordem cronológica as cartas de eventos históricos. Intuição e conhecimento lateral são fundamentais: ninguém sabe ao certo quando foi inventado o papel higiênico, mas talvez dê pra imaginar que foi entre a morte de Maomé e a inauguração da Torre Eiffel. E é isso que torna o jogo instigante.

É Top!? faz de outra forma. Você precisa elencar itens de um Top 10. Mas ninguém sabe a lista, então se você chutar que mamão é uma das 10 frutas mais consumidas do mundo e ninguém duvidar, tudo bem. Além disso, você só ganha ponto se desconfiar de algum palpite: mesmo que saiba de cor as cidades mais visitadas do mundo, se alguém acusar uma resposta errada antes de você, é ele quem vai pontuar.

A inovação do jogo de trivia moderno vem da maneira como ele dribla essa necessidade de saber a resposta. Wits ‘n’ Wagers e Fauna permitem aos jogadores aproveitar as respostas dos adversários para dar o seu palpite. Half Truth, o jogo de trivia do Richard Garfield, inclui uma pitada de push your luck.

Os exemplos são poucos pois não há muitos no mercado. Mas porque não um jogo de trivia cooperativo? Ou com uma pontuação de set collection, em vez de uma simples trilha de pontos? Opções não faltam, a tela está quase em branco, falta só a gente preenchê-la.

É Top!? é o primeiro, mas eu e Leandro temos outras cartas na manga.

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