A bolha do game design 16 de novembro de 2017
O número de game designers aumentou drasticamente nos últimos 2 anos, mas o número de jogadores que frequentam eventos subiu muito menos.
Isso é um problema, pois eventos são o principal canal para testes e promoção de jogos em desenvolvimento. Com a multiplicação de game designers, a disputa por espaço ficou muito maior.
Além disso, os próprios eventos começaram a limitar esse espaço. O Castelo das Peças, tradicional evento no Rio de Janeiro, chegava a ter metade das mesas só com jogos sendo testados. Agora, para não correr o risco de ser canibalizado pelos protótipos, restringe a 5 por edição. Outros eventos seguem ou seguirão essa fórmula.
A disputa aumenta e o espaço diminui. Isso, meus amigos, é uma bolha.
Como sobreviver a ela? Seguem algumas ideias de quem ainda está matutando o assunto. Contribuam com as de vocês:
1. Eventos são cada vez mais locais de demonstração, e não de testes.
Não dá mais para depender de evento para testar seu jogo. É preciso encontrar outras formas. Alguns criam grupos de designers que testam jogos uns dos outros, como a Mansão das Peças. Outras pessoas se reúnem pelo Tabletopia, ou outros ambientes virtuais.
Como quer que seja o melhor jeito para você, evite trazer para eventos jogos que você considera inacabados. Claro que no evento você vai detectar várias outras falhas que não tinha previsto. Mas ao menos você está dando ao jogador a melhor experiência que pode naquele momento, e isso pode ser decisivo para seu protótipo ser bem recebido num evento.
2. Aprenda a explicar seu próprio jogo.
Protótipos tem uma grande vantagem em relação a jogos prontos em eventos, que é a oportunidade de jogar com o autor. Nenhum monitor sabe jogar Zombiecide ou Catan tão bem quanto você sabe jogar seu jogo. Transmita esse conhecimento com uma explicação clara, objetiva e apaixonada.
Crie um roteiro para ela, sem decorar cada palavra, mas sabendo a sua sequência natural. Perceba quais são as dúvidas mais comuns e antecipe-as. Veja os pontos que mais engajam e enfatize-os. Dê dicas de estratégia, se achar que deve. Uma boa explicação melhora muito a experiência de jogo.
3. Não seja o chato do protótipo.
O chato do protótipo é quase um assediador. Ele monta seu jogo na mesa e fica cantando os transeuntes para jogar. Ele não contribui em nada para a comunidade, apenas usa ela para ter seu jogo testado. Não seja esse cara.
Jogue outros protótipos. Jogue jogos prontos. Vá em eventos sem levar nenhum jogo seu de vez em quando. Faça amigos.
E quando puser seu jogo na mesa, tente encontrar o balanço delicado entre ser mala e não ter iniciativa. É difícil, eu ainda não sei a medida. Minha única regra interna é abordar quem caminha em direção ao jogo, mas não quem está passando por ele. O resto é por instinto.
4. Faça um protótipo bonito.
Jogo feio é para jogar com seu grupo de testes interno. Levou em evento, tem que atiçar a curiosidade. Ter cor, ter personalidade. Ajuda muito se tiver um tema criativo.
5. Faça um jogo curto.
Ninguém quer passar 2 horas com um jogo potencialmente quebrado. Todo mundo está no evento pra se divertir. Tem mais chances de as pessoas testarem seu jogo se a partida não tomar tanto o tempo dela. Melhor deixar jogos maiores para quando você tiver um nome mais estabelecido.
Mas e se a bolha não estourar?
Essas ideias talvez ajudem alguns designers a não acabarem junto com a bolha, mas será que é possível evitar que ela aconteça?
Quanto mais eu penso no assunto, mais me convenço da necessidade de eventos regulares exclusivos para protótipos.
A Game of Boards e a Vale dos Aventureiros, lojas do Rio e de São José dos Campos, já fizeram eventos exclusivos que tiveram bastante público e apoio da comunidade. Mas não são regulares, então não dão vazão à demanda estancada.
Imagino algumas formas de fazer um evento nesse formato gerar interesse.
Talvez cobrando um valor alto de entrada dos game designers (R$60? R$80?) e revertendo o valor cobrado em jogos sorteados entre os participantes? Ou elegendo os 3 melhores protótipos para que possam participar de um evento maior, em vez do sistema atual de ordem de chegada usado pelos eventos?
O número de game designers nacionais cresce todo mês. Que o funil seja feito não pelos espaços de teste e demonstração, mas pelas editoras e pelos crowdfundings, para que tenham cada vez mais opções para escolher e trazer de fato os melhores jogos para o mercado.
Achei bem legal a materia. Sou novo no ramo mas tenho interesse em criar meu próprio boardgame. Achei bem legal a forma como descreveu os fatos que estão acontecendo no mercado brasileiro. Parabéns.
Que legal Rodrigo. Fazer jogos é uma experiência muito recompensadora, e se você der mole, um vício. Boa sorte!