Está começando uma Era de Ouro para o design nacional? 22 de abril de 2021
Eu acho que sim. E o motivo principal não é nem a criatividade natural do brasileiro, nem o fato de o mercado nacional já estar amadurecido. O motivo principal é econômico.
Nos últimos 2 anos, o dólar dobrou de valor. Por isso, para as editoras, licenciar jogos passou a ser um investimento bem menos lucrativo. Como elas pagam em dólar pela licença, o custo de repente duplicou.
Em compensação, a possibilidade de exportar jogos começa a ficar cada vez mais interessante. Afinal, quando uma editora sublicencia um jogo seu para o mercado internacional, ela também é remunerada em dólar.
Se você fosse uma editora, o que faria nesse momento? Provavelmente, o que quase todas as editoras nacionais começaram a fazer: investir em jogos feitos aqui. E isso é uma ótima notícia para nós, game designers.
Com exceção (por enquanto?) da Mosaico, da Calamity e da Paper Games, TODAS as editoras de nicho estão investindo em jogos nacionais. De repente, publicar jogos de autores brasileiros deixou de ser coisa de editora indie, de puro amor ao hobby, e passou a ser um excelente negócio.
Melhor ainda: os jogos nacionais não tiveram seus preços inflacionados. Enquanto os jogos de caixa grande licenciados de fora estão saindo a mais de R$ 500 (vejam os preços de lançamentos recentes como Marco Polo II e Tekhenu), os nacionais com mesmo peso e formato continuam bem abaixo de 400 (Cosmos a R$309 no Catarse, Brazil Imperial a R$349 na pré-venda). O hobbista que não pode pagar tão caro num jogo continua tendo alternativa.
Poderiam ser jogos ruins. Mas não são, pois o ecossistema de designers de jogos de tabuleiro que estamos desenvolvendo no Brasil amadureceu e consegue produzir jogos, se não do mesmo nível (pois estamos concorrendo com os melhores jogos produzidos no mundo inteiro, incluindo escolas muito mais tradicionais que a nossa), que satisfazem os jogadores mais exigentes.
Poderiam ser jogos mal acabados. Mas não são, pois as editoras também amadureceram, e estão, mais do que nunca, testando e desenvolvendo os jogos que assinam. Pensando no jogo como produto, e buscando temas, componentes e ilustrações que coloquem o jogo em destaque.
Ou não teríamos um jogo indicado ao Spiel des Jahres em 2020 (Cartógrafos, se é que alguém ainda não sabia). Duas campanhas que arrecadaram no Kickstarter mais de US$ 1 milhão (Masmorra e Trudvang). Jogos criados de forma independente e hoje licenciados em várias línguas (Paper Dungeons, Gnomopolis, Dwar7s). E essas são apenas as pontas do iceberg.
Abaixo delas, uma comunidade vibrante de designers, com encontros semanais, troca de informação diária, cultivada por eventos virtuais como a Oficina do Playtest e o ProtoBR, nos quais todos se reúnem, se ajudam e depuram seus projetos.
Se você é game designer, tenha consciência que o auge é agora. Nunca saíram tantos jogos, com tanta qualidade.
Mas em algum momento, sabe-se lá quando, o dólar vai baixar de novo. Os jogos internacionais voltarão a ser atraentes para as editoras.
Até lá, espero que nós consigamos criar nelas a percepção de que vale continuar investindo, porque o retorno compensa. Aí não depende mais de dólar. Depende da nossa capacidade como designers.
E eu não sou de ser muito otimista à toa. Mas acho que estamos conseguindo.
Perfeito, Rodrigo! Vamos em frente! 😉