Métricas de Game Design com o BG Stats 30 de junho de 2019
No início do ano comecei a usar o app BG Stats para logar partidas, e depois de 6 meses, acabei acidentalmente descobrindo que gerei métricas super interessantes de game design.
Então é hora de ver na prática se várias daquelas recomendações que a gente ouve e passa adiante estão sendo seguidas na prática.
“Quem cria jogos de tabuleiro quase não joga mais por prazer”
A primeira coisa que qualquer um que comece a se arriscar em design de jogo ouve é que você vai jogar muito menos jogos prontos. E isso ficou demonstrado de forma cabal.
Foram 324 partidas nos últimos 6 meses: 122 de jogos prontos e quase o dobro de protótipos: 202.
O jogo pronto que mais joguei foi Codenames Duet, com 9 partidas. Houve 5 protótipos que joguei (bem) mais do que isso: Mouse Maze (56 partidas), Fall of the Ancients (49), Bungle in the Jungle (41), Maracanã (31) e Dungeons & Drawings (10).
“Esse jogo de 2h foi testado mais de 300 vezes”
Sempre me impressionei com esse tipo de afirmação, mas depois de 6 meses catalogando partidas, começo a achar isso impossível, pelo menos da forma como eu trabalho ou contabilizo minhas partidas.
Meu jogo mais jogado nesse período é o Mouse Maze, um roll & write que estou desenvolvendo com o Leandro Pires, que em pouco mais de um mês teve 56 partidas. Mas é um jogo rápido, de 15 minutos, perfeitamente possível de se testar solo várias vezes em sequência.
O verdadeiro colosso desse semestre foram as 49 partidas de Fall of the Ancients, esse sim, um jogo de 1h30, cheio de componentes, com setup longo e meia hora de explicação de regra.
Reservei mais do que a metade do meu extenso tempo dedicado a jogos (considerando que não vivo disso) a ele, e consegui só 49 partidas. Pra chegar a 300, precisaria de 3 anos testando. Possível? Talvez, mas só pra quem se dedica exclusivamente a isso.
“Tenha sempre mais de um jogo sendo feito”
Esse é um teste que passei com louvor. Ao longo do semestre testei intensamente 4 jogos: os já mencionados Mouse Maze e Fall of the Ancients; Bungle in the Jungle, com 41 partidas e Maracanã, com 31. Coube ainda uma derradeira partida de Herdeiros do Khan.
Sigo acreditando que quem quer levar o metiê a sério precisa estar fazendo mais de um jogo ao mesmo tempo. Um jogo só é um projeto pessoal, não é parte da rotina. Com vários jogos, você começa a encarar o processo como linha de montagem, com menos apego e mais objetividade.
“Teste muito sozinho antes de levar seu jogo para outros grupos”
O método que mais se recomenda para a evolução dos testes do seu jogo é começar testando sozinho – para não infligir aos outros o terror de testar as versões iniciais totalmente quebradas da sua ideia pavorosa – e ir incorporando aos poucos novos círculos de testadores.
Pelos números do BG Stats, eu estou seguindo esse fluxo bem. Foram, no total:
- 60 testes solo
- 34 testes só com minha esposa
- 50 com a Mansão das Peças ou com o Diego da Dijon, meus grupos de testes
- 29 com grupos externos
Onde eu engancho é nos testes cegos, em que você dá as regras pra outra pessoa explicar e não interfere em nenhuma dúvida ou regra errada que surja na partida. Esses, admito, não fiz nem nesse semestre, nem nunca.
“É preciso haver solidariedade entre designers”
Testar jogos de outros designers é uma cortesia fundamental. Como muitas vezes o público externo não tem paciência para protótipos, geralmente a gente se alimenta de testes com nossos colegas de hobby.
O equilíbrio foi impressionante. Das 134 partidas de protótipos meus que joguei, 25 foram com outros designers (excluindo jogos com codesigners e editores). E eu joguei 24 partidas de jogos de outros designers nesse semestre, num total de 15 jogos de 8 autores diferentes. O jogo mais jogado foi o (ótimo) Dungeons & Drawings, do Leandro Pires, com 10 partidas.
“Tabletopia revolucionou o game design”
Confesso que não tenho saco para o Tabletopia. Só joguei nele esse ano porque a maioria dos testes do Maracanã foi com o Diego, editor do jogo, que mora em São Paulo e é entusiasta da ferramenta. Das 31 partidas de Maracanã, 26 foram no Tabletopia, e esse foi o único jogo que joguei lá.
“Vale mais à pena observar as pessoas jogando do que tomar parte no jogo”
Esse talvez tenha sido meu maior pecado esse semestre. Excetuando as partidas solo, com minha esposa e no Tabletopia, foram 54 partidas em que eu poderia ter ficado só como observador.
Dessas, fui de fato observador em 16, e joguei as outras 38. Bem menos do que deveria. Fica como meta para o resto do ano então: ao menos igualar a proporção de partidas como observador e como jogador.